quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A Caixa


Uma caixa verde, quadrada, florida e pesada. Pesada porque carrega inúmeras cartas, bilhetes e objetos do passado. Mais do que uma simples caixa: um túnel do tempo.

Ontem fui reorganizar a minha caixa, que estava uma bagunça. Pra isso, tive que mexer no conteúdo. Foi aí que a brincadeira começou.

Logo de cara vi uma pulseirinha laranja, toda arrebentada. "Ei, você ainda existe?". É, parece que sim. A pulseirinha que usei há mais de quatro anos, nos meus primeiros jogos universitários, ainda estava lá. Numa fração de segundos, voltei àquela viagem maluca que fiz quando entrei na faculdade. Lembrei das pessoas que conheci e com as quais me identifiquei, mas que o tempo tratou de afastar. Lembrei da cidadezinha mineira, das torcidas que ocuparam o ginásio e do barulho da bateria. A nostalgia me pegou de jeito.

Mesmo com o pensamento longe, outra coisa me chamou a atenção: um coração de papel rosa dobrado ao meio. Tudo indica que é um Correio Elegante. Curiosa e desmemoriada, fui ver o que era (exatamente). Dentro do coração, um bilhete: A noite chega / Eu fecho os olhos / É você que eu vejo / Como eu queria estar contigo / Eu paro e faço um desejo. O complemento: "logo te conto... juro". Não sei por que, mas meu admirador secreto não se identificou até hoje.

Depois disso, a "viagem" continuou. Ainda vi um crucifixo que ganhei durante o catecismo, os óculos que vovó usava e uma toalha de mesa do New Dog que marca o dia em que meus amigos e eu nos encontramos pra jogar conversa fora: 16/05/08.

É, lembranças mexem comigo. Por menores que sejam, nos levam a lugares e pessoas que um dia fizeram parte da nossa vida, e nos mostram que o tempo passa cada vez mais depressa. E pra ter certeza de que soubemos aproveitá-lo, por que não guardar o bilhetinho trocado na sala de aula, a declaração de amor do garoto da escola e a mais linda concha encontrada na praia?

Não posso voltar no tempo, mas posso chegar perto disso. Basta abrir uma caixa.

Foto: a caixa.

sábado, 16 de novembro de 2013

Doce Vida



Alimentos orgânicos, integrais, light, diet, livres de gordura trans, açúcar e glúten. Corpos malhados, músculos à mostra, pilates em alta e fotos no espelho. Tudo isso nos leva à uma vida mais saudável e, cá entre nós, um pouco exaustiva. 

Não é nada fácil substituir a boa e velha Trakinas por um pedaço de banana ou trocar aquele cochilo (cada vez mais raro, diga-se de passagem) por uma hora de ginástica. Pior ainda é ir ao mercado e passar pelo corredor de doces. Hoje mesmo eu estava lá, à procura do pão integral, quando algo me chamou a atenção: o Sucrilhos. Aquele cereal com gostinho de infância que eu nunca mais vi no armário de casa. Como eu sinto sua falta...

Por falar em saudade, ainda posso sentir o cheirinho do pão de queijo que eu sempre comia depois da Natação. De banho tomado, me encontrava com mamãe em frente à lanchonete e logo avistava o salgado na estufa. Era hora do lanche!

De repente, o prazer que eu sentia com esses pequenos momentos se transformou em culpa, que se transformou em raiva, que se transformou em angústia. Aquela criança - até então magrinha - não entrou na melhor calça jeans e se viu obrigada a fechar a boca. E a luta continua até hoje. 

Às vezes me dá uma vontade louca de voltar no dia em que papai, Bi e eu fomos ao Joakins às quatro da manhã e mandamos ver no x-salada com maionese verde. Não sei se por causa da comida ou da companhia, essa madrugada me deixou mais feliz.

Mas felicidade não combina com fast food, tampouco com roupa justa. Então abro mão do Big Mac e sigo em frente. Recaídas acontecem e, claro, a consciência logo pesa. Mas nada como deixar a dieta de lado para experimentar o pudim da vovó ou degustar os cupcakes da irmã. Afinal, não há beleza que compre a sensação da primeira mordida. 

Resolvi escrever esse texto porque, depois de uma longa semana sem comer coisa boa, me rendi à barra de chocolate Hershey's, ao bolo de laranja e ao chocolate branco derretido. O arrependimento já se instalou em mim, mas isso não é novidade. O que fazer nessas horas? Se alguém souber a resposta, me avise. Enquanto isso, vou lá comer um brigadeiro.

Foto: cupcake de brigadeiro da Fê.