terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Trouxa, eu?



 Metas para 2015:

- Deixar de ser trouxa;
- Parar de ser trouxa;
- Não ser mais trouxa.

Vi essa checklist - bastante conveniente, diga-se de passagem - no Instagram da Nazaré Amarga, a mesma Nazaré Tedesco que me divertia semanalmente em "Senhora do Destino". Sim, aquela que jogava pessoas da escada e zoava a Leandra Leal, que tinha um piercing na sobrancelha e era meio esquisita. Até aí, eu tenho dois piercings no nariz e um transversal na orelha direita, então devo ser igualmente zoada por outras pessoas. Mas furos no corpo não tornam alguém esquisito, tampouco trouxa. Falando em furos, ainda vejo a celulite que jurei eliminar em 2014. Pois é, tudo indica que essa meta se estenderá por mais um ano.

Mas celulite também não me faz trouxa. Nem a cicatriz que eu tenho no cotovelo, nem minhas pontas duplas, nem minha mania de estragar a dieta com Bis Xtra (sim, aquela barra gigante sabor Bis, mas muito melhor do que Bis). Cada um desses deslizes me faz humana e minimamente suportável, afinal de contas, meu lado trouxa julga insuportável quem não tem celulite, cicatriz ou desejo por chocolate.

Meu lado trouxa é interno, oculto e sombrio. Por fora, sou como muitas garotas jovens e independentes que pouco se importam com aquele otário. Por dentro também. Mas como toda trouxa, me dou o direito de lamentar minha vida amorosa, mesmo tendo outros problemas realmente lamentáveis. Como muitos trouxas que conheço, me acabo na academia para devorar um pão de queijo recheado, espero ansiosamente por uma resposta xis no WhatsApp, gasto dinheiro com o que não preciso, me interesso por pessoas tão trouxas quanto eu.

Como muitos trouxas por aí, às vezes falo da vida alheia só para saber o quão diferentes as pessoas são. Não raramente, os boatos que surgem nas rodas me dão a impressão de que Fulano é isso ou aquilo e eu crio sua imagem à minha maneira. Mas enxergar o outro com histórias tão superficiais me parece injusto e leviano, o que faz de mim uma pessoa ainda mais... trouxa.

É por isso que a Nazaré Amarga tem razão: deixar de ser trouxa deve ser meta para 2015. De fato, essa característica universal descreve os mais variados tipos de gente. Apaixonados, viciados, rejeitados, desocupados, deslumbrados: todos trouxas! Mas como não ser nada disso em 365 dias?

Enquanto eu não tiver a fórmula mágica, vou me esforçando para dar o melhor de mim no próximo ano, mesmo que o meu melhor seja insuficiente para os outros trouxas que também dão o seu melhor, que para mim é insuficiente. Mas já que esse assunto está ficando confuso, vou parar por aqui. Se, inevitavelmente, formos um bando de trouxas no ano que vem, paciência. A ideia é aceitarmos uns aos outros e, em primeiro lugar, aceitarmos nós mesmos.

Como dizem por aí, "estou fazendo origami com meu papel de trouxa". Talvez seja essa a tal fórmula mágica, mas se não for, deixa que a vida ensina.

Foto: Roberto G. Bolaños, eterno Chaves (o garotinho trouxa que morava na vila).