terça-feira, 21 de julho de 2015

O olhar que se perde


"Vai, menina, vai buscar o que vi no teu olhar! Vai buscar tua felicidade perdida, que eu hei de abençoar!"

Vai, menino, diz o que você vê no meu olhar. Eu não sei o que busco, tampouco o que encontro, então como hei de continuar?

Vai, menino, me dá uma luz. O que você vê no meu olhar? Esse brilho é sinal de esperança ou uma lágrima a despencar?

Vai, menino, eu tô esperando. Me diz o que você vê no meu olhar! Meu olho observa, seduz e cobiça, mas nunca parece se saciar. Meu olho procura mar, mas vê fumaça. Procura branco, mas vê preto. Procura areia, mas vê asfalto. Procura Pedro, mas vê João. Procura isso, mas vê aquilo.

Vai, menino, diz o que você enxerga. Diz se essa luz me guia ou me cega, me bronzeia ou me queima, me ilumina ou me engana. Diz se falta muito para nos encontrarmos no fim do túnel e se esse fim do túnel é um final feliz.

Vai, menino, acaba logo com isso. Quero a resposta para buscar a tal felicidade perdida, pois o que mais tenho de perdida sou eu mesma. Minha cabeça pensa uma coisa, meu corpo faz outra. Minha consciência diz para eu parar, eu continuo. E vice-versa.

Vai, menino, quais são minhas alternativas? Dá uma dica, um conselho, um sinal. Se eu souber para onde devo ir, certamente saberei COMO ir.

Só preciso saber o que você vê nesse olhar. Olhar que olha mas não enxerga. Não encontra. Não reconhece.

Que olhar é esse, menino?

Foto: o olhar que se perde mas não se esconde.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

I Do


"Sabe 'amor à primeira vista'? Ele existe."

"Cara, parecia que a gente se conhecia há anos!"

"Eu sempre soube que ele seria o pai dos meus filhos."

"Ele é diferente de todos os outros."

"Eu vou casar com esse cara!"

Já ouvi essas frases - e outras parecidas - algumas vezes na vida. Amigas, livros, novelas. Figuras reais e fictícias que têm plena convicção do amor verdadeiro. Aquele amor que a gente sente uma única vez e reconhece imediatamente. Aquele amor que a gente percebe ao olhar nos olhos de alguém específico ou ao presenciar uma coincidência quase bizarra com quem até então desprezávamos. Aquele amor que não se iguala a nenhuma experiência anterior.

Já se ouve falar por aí que, ao encontrar a "metade da laranja", você simplesmente SABE. Se sempre rolou a dúvida, é porque nenhuma das pessoas que você conheceu era o seu verdadeiro amor. É claro que existem aquelas aparentemente perfeitas, com quem sonhamos acordados antes de dormir. Eu mesma já me casei e descasei umas duzentas vezes com homens diferentes, em lugares diferentes, com vestidos diferentes, em datas diferentes. Eu nunca acreditei que algum desses noivos potenciais fosse o meu grande amor, mas sempre me deixei imaginar como seria se desse certo com cada um.

O Fulano que eu conheci na balada tem cara de chorão. Como ele se comportaria na igreja, enquanto esperasse por mim? O Cicrano foi tão fofo comigo no cinema... ele certamente me daria um beijo na testa assim que eu chegasse ao altar! E o Beltrano? Ah, eu já posso enxergá-lo com um lencinho, enxugando o suor que escorre em seu rosto, tamanha ansiedade em se tornar meu marido.

Na verdade, o cara não precisa ser sensacional para me fazer pensar nesse tipo de coisa. Eu é que quero me casar um dia e preciso de um noivo para sonhar. Então, "pego emprestado" qualquer um desses garotos que cruzaram meu caminho e simulo o grande dia. Terminada a cerimônia imaginária, devolvo o falso parceiro.

Mas se tudo o que dizem sobre amor verdadeiro é mesmo um fato... ah, quando eu finalmente encontrá-lo, nenhuma outra pessoa servirá de noivo. Somente AQUELE cara poderá assumir tal posto, seja no casamento real ou no de mentirinha. Isso porque eu só saberei pensar nele e em mais ninguém, seja para criar uma situação utópica ou para viver a realidade mais delirante da minha vida. Afinal, quando AQUELE cara aparece, todos os outros se tornam, no mínimo, desinteressantes, então como encaixá-los nos meus sonhos mais doces?

Falando em encaixe, talvez a nossa "cara metade" seja a peça certa do quebra-cabeça, a tampa da panela que achávamos ser frigideira. Mas como esse assunto já está ficando cafona, vou parar por aqui. Enquanto o príncipe encantado não vem, os substitutos fazem seu papel dentro da minha cabeça sonhadora e um tanto quanto confusa. Pensando bem, o Fulano da balada é uma gracinha! Não seria de todo mal se ele fosse mesmo o meu noivo real. E não é que, em segundos, acho que já encontrei o amor da minha vida?

Foto: os falsos mas sempre bem-vindos noivos.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Beatriz



Beatriz, como amo o seu nome. Não sei se amo naturalmente, como amo o nome Joana, Lara ou Maria, ou se amo porque te amo.

Beatriz, como amo o seu nome. Mas por alguma razão, não consigo chamá-lo. Ele me parece forte, intenso e até áspero demais. Mesmo assim, continuo amando.

Beatriz, como amo o seu nome. Amo porque rima com imperatriz, "a mulher que governa um império". Sugestivo, não?

Beatriz, como amo o seu nome. Amo porque me leva à sua imagem. A imagem da Beatriz que conhece os meus defeitos, os meus vícios e as minhas fraquezas. Conhece os distúrbios da minha mente, a mesma mente que mente quando faço alguma coisa errada. Mas por mais mentirosa que a minha mente seja, você sempre descobre a verdade. Descobre a verdade, perdoa a Renata e defende ambas.

Beatriz, como amo o seu nome. Amo porque intitula a música do Chico, a mesma interpretada pela Ana Carolina. Como protagonizar uma canção tão linda e não amar sua nomenclatura?

Beatriz, como amo o seu nome. Amo porque os nossos pais escolheram. Amo porque a mamãe ama, e se a mamãe ama eu amo também.

Beatriz, como amo o seu nome. Amo porque não há tantas Beatrizes como há tantas Renatas, Carolinas ou Gabrielas. Amo porque, justamente por isso, Beatriz me parece nomear somente uma pessoa. Me parece único e exclusivo, assim como você.

Beatriz, como amo o seu nome. Amo porque está no começo da chamada escolar, e eu nunca gostei que o meu nome estivesse no final.

Beatriz, como amo o seu nome. Amo porque me faz lembrar de você, Beatriz, a menina mulher que perdeu seu melhor amigo e cresceu mesmo assim. Cresceu linda e discretamente, como cresciam as rosas que ele te dava de aniversário.

Beatriz, como amo o seu nome. Amo porque você, Beatriz, argumenta como imperatriz, encanta sua irmã semi-atriz e ilustra o que o Chico diz.

Beatriz, você não é de louça nem de éter, mas é de um amor que eu amo sentir. Um amor que transcende qualquer outro sentimento derivado de outro amor. Um amor que transcende porque não acaba, mas se potencializa a cada dia em que cruzo com você no corredor de casa ou na calçada da Paulista. A cada dia em que nos entendemos com uma mensagem, com uma conversa ou com um jantar no The Fifties. A cada dia em que uso uma roupa sua, claro. A cada dia em que você me dá um conselho arrebatador.

Beatriz, uma vez eu te falei que a minha vida estava do avesso e você respondeu: "então melhora". Tá bom, vou melhorar por você, mas só com uma condição: "me leva para sempre, Beatriz".

Foto: a infância feliz de Renata e Beatriz.