domingo, 26 de janeiro de 2014

Smile



As pessoas têm que ser inteiras, não pela metade. Foi o que disse a professora Rita, de Ensino Religioso, quando me chamou para conversar ao final da aula.

Desde então, passei a refletir no que ela me dissera, mas não fiz nada para mudar minha condição de "meia" Renata. Na verdade, acho que o ser humano passa a vida toda em busca da integridade, sempre com a certeza de que lhe falta algo para ser completo.

Tudo bem, existem certas pessoas que, aparentemente, são perfeitas aos trinta e poucos anos e não precisam de mais nada. A Izabel Goulart, por exemplo. Linda, magra, rica, bem-sucedida, respeitada, popular, conhecedora dos seis continentes e dona de um armário impecável.

Mas eu não a conheço de verdade. Talvez ela chore de saudades da família em um quarto de hotel. Talvez ela sofra ao deixar sua casinha do interior para encarar os holofotes da China. Talvez ela odeie viajar de avião, mesmo que o faça dez vezes por semana. Talvez ela não consiga arrumar um namorado porque nunca está no mesmo lugar.

Medos e inseguranças existem para todos, por isso a dificuldade de encontrar a nossa outra metade. Mas acho que a graça da vida está justamente nessa descoberta: o que te faz feliz, completo e realizado? Se responder fosse fácil, eu não frequentaria sessões de terapia.

Me lembro de quando ganhei uma rosa vermelha e ouvi o porquê da cor: "você é uma pessoa muito intensa". Até hoje não entendi se isso foi uma crítica ou elogio. De qualquer forma, a flor era linda.

E em busca desses 100%, nós damos o nosso melhor. Eu não tenho o emprego dos sonhos, mas consegui um freela bacana para o próximo mês. A Izabel G. pouco vê a avó, mas pôde visitá-la no último Natal. Tem dias em que nem isso acontece. O freela termina e eu me desespero. O Natal finalmente chega e a modelo não participa da ceia.

De um jeito ou de outro, tentamos afastar a dor para bem longe e nos convencer de que a vida é muito melhor do que parece ser. Afinal de contas, Djavan já dizia: "Sorri / Vai mentindo a tua dor / E ao notar que tu sorris / Todo mundo ira supor / Que és feliz"

Smile.

Foto: Izabel Goulart com sua avó, D. Rosa, no Natal de 2013.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

2014: otimismo, praia e mate com limão.



Negatividade: eis um sentimento ruim que, ultimamente, move minhas ideias com certa frequência e intensidade.

De uns tempos pra cá, tive a certeza de que uma nuvem negra se instalou sobre mim e decidiu permanecer por tempo indeterminado. Problemas pessoais e profissionais surgiram tão rapidamente que a minha cabeça deu um nó. Até sofrer ficou difícil, porque eu não sabia nem por onde começar. "Ei, Renatinha, o que vamos lamentar primeiro?".

Sem achar uma resposta pra essa pergunta, eu sofria por tudo junto, ou por nada. Sofria por uma razão desconhecida, cuja origem eu mal sabia explicar. Sofria pelo excesso de trabalho e pela falta dele. Sofria pelo vazio que papai deixara e pela tão esperada viagem que ele não chegou a fazer com mamãe. Sofria pelas decepções de um casamento e pelo fato de não poder dormir dentro da minha própria casa. Sofria pela minha irmã no busão em dia de chuva. Sofria por trancar o curso de Teatro, começar uma dieta e chamar o técnico da NET pra consertar minha TV.

Sofria pela minha sobrancelha rebelde, pela rede Wi-Fi que não funcionava, pelo mau humor diário e pela letra que saía um garrancho. Sofria com fotos antigas, banhos gelados e maquiagem borrada.

Sofria pelo simples prazer de sofrer.

Depois disso, fui me cuidar. Dei um jeitinho na deprê e me tornei uma pessoa mais serena, ou menos irritada. Mesmo assim, ainda é difícil ignorar aquilo que, de fato, está mal resolvido. Certas coisas continuam fora do lugar, independentemente do pessimismo ou do modo como você as vê.

Mas aí eu vou pro Rio de Janeiro e conheço um homem. Ah, como eu queria saber seu nome. Logo no primeiro dia do ano, ele surge em Ipanema e afasta a minha negatividade como ninguém.

No calor de 40 graus, a temperatura da areia faz queimar os pés dos banhistas, que se protegem embaixo de seus guarda-sóis. Porém, esse homem que encontro não pode fazer o mesmo. Vendedor de praia, ele é obrigado a andar com dois enormes galões, um com mate e outro com limão, ambos carregados nos ombros. Proibido de usar chinelo (o calçado joga areia nas pessoas), ele anda descalço na areia borbulhante. Seu suor me apavora.

Então eu o chamo e peço uma bebida. O homem me serve com muita atenção e, desesperado, corre para o meu guarda-sol, batendo os pés como se algum bicho estivesse lhe atacando. Ele pede desculpas e se justifica: "A areia tá quente demais". Aquela cena desperta em mim um sentimento de compaixão nunca sentido antes. Então peço pra que ele se sente e espere o cansaço físico dar uma trégua. Enquanto isso, encho uma garrafa com água para ajudá-lo a se refrescar. O vendedor aceita, descansa e conta que começou a trabalhar na praia há dois meses, quando largou a obra. Depois de perguntar qual dos trabalhos ele prefere, vem a resposta: "Os dois são muito complicados".

Eu nunca me senti tão egoísta.

Depois desse episódio, paro e penso se vale a pena sofrer por tão pouco. Às vezes não tenho controle sobre minhas emoções e a dor vem naturalmente. Como diz minha terapeuta: "Parece que você põe óculos escuros e enxerga tudo cinza".

Nessas horas, vou me lembrar do homem guerreiro que conheci e encarar o problema de frente, sem muito drama e desgraça. Afinal, todos nós passamos por dificuldades no meio do caminho, e a única saída é enfrentá-las.

Já ouvi falar que, se formos otimistas, os problemas logo desaparecem, mas confesso que não boto muita fé. Como eu disse, sou um tanto quanto pessimista. Ih, já sei o que mudar em 2014!

Da próxima vez que o cara da NET vier, vou tratá-lo como um velho conhecido e oferecer AQUELE chocolate, o mesmo que eu vou saborear lentamente, sem o menor pingo de culpa.

Foto: vendedor de mate na praia. Não é o citado no texto, mas gosto de imaginá-lo assim, feliz.