terça-feira, 28 de outubro de 2014

Garotas e Seus Parafusos



Garotas são assim:

Choram durante a primavera, quando os resquícios de luz lhes fazem companhia na volta para casa. Odeiam o sol nos dias em que não podem aproveitá-lo. Do contrário, amam-no incondicionalmente. Garotas gritam, esperneiam e se machucam com o simples ato de pensar. Se apaixonam, se apegam e se desencantam com a mesma intensidade. Elas ainda sonham com príncipes, cavalos brancos e trilhas sonoras, mesmo que o único elemento real seja o terrível alarme do seu despertador. Não suportam linhas tortas de delineador, sapatos apertados e cinema sem pipoca. Gostam de mensagens inesperadas, encontros inusitados e viagens imprevisíveis. Adoram motoboys educados (e não xavequeiros), brigadeiros de panela (na panela) e cartinhas amarrotadas em gavetas intocáveis. Elas adiam o inadiável, recusam o irrecusável. Elas julgam o comportamento masculino, embora condenem o delas próprias. Elas se emocionam sem ver "Titanic" pela milésima vez, um Coldplay dentro do carro já é suficiente. Elas sabem comer como trogloditas. Elas perdem as estribeiras. Elas se esquivam, se escondem e recuam. Elas se atrevem, se arriscam e ousam. Finalmente, elas se arrependem.

Garotas são meninas-mulheres complexas demais para quem não faz parte dessa tribo, por isso se interessam por aqueles que têm a incrível capacidade de ler seus pensamentos. Basta acertar na música, no chocolate ou no elogio. Se, ainda assim, elas não se derem por satisfeitas, faz parte. Nem sempre é TPM, às vezes é saudade, depressão pós-nada, pé na bunda, ressaca ou carência. Repito: garotas são muito complexas. Mas se não fossem, que graça teriam?

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Desabafo de uma Quietinha



As pessoas costumam me perguntar por que sou tão quieta em algumas ocasiões. Na maioria das vezes, percebo que elas julgam "quieta" uma característica negativa, própria de quem não se relaciona normalmente com os falantes, comunicativos, expansivos e extrovertidos.

De fato, há uma linha tênue entre ser quieto e antissocial. Mesmo sendo legal, quem fala quase nada pode se "autoexcluir" dos grupos que jogam conversa fora na mesa do boteco ou falam da vida alheia na sala do escritório, hábitos indispensáveis para a política da boa vizinhança.

Quem pouco fala é considerado esquisito, alienado, "sem opinião" e, segundo o dicionário, virgem (?). Quem pouco fala nunca é visto como um grande líder ou figura popular. Quem pouco fala tem mais chances de ser o nerd da turma. Quem pouco fala nunca se destaca em multidões histéricas e ativistas de plantão. Quem pouco fala pouco será ouvido.

Desta forma, ser quieta me parece uma grande desvantagem. Eu certamente seria mais realizada se tivesse voz, confiança, ousadia e coragem ao invés de timidez, pudor, receio, vergonha e preguiça. Esta última, principalmente, vem me atrapalhando bastante nos últimos anos.

Discursos extensos, diálogos complexos e fofoqueiros maliciosos me dão certo "bode", aquela sensação de tédio que temos às segundas-feiras. Ok, o certo é me envolver em conversas alheias e buscar o meu "espaço" no grupo, assim como fazemos em primeiros dias de aula. A pauta da discussão não importa, mas os comentários que a gente faz.

Eu juro que me esforcei para opinar sobre a tecnologia inserida no novo Nintendo Super Smach Bros, a polêmica que envolve a "não-gata" Hello Kitty, a pausa na carreira do cantor Belo e o cabelo esquisito daquela Fulana "xis".

Sinceramente, não me saí bem. Minha tentativa de discorrer sobre esses e outros assuntos igualmente apáticos foi um fiasco, então parei de me envolver. Logo me calei e voltei ao meu posto de quieta, quase muda, observadora e "estranha da turma". Enquanto isso, faladores e tagarelas desenvolveram seus monólogos, mesmo que os ouvintes estivessem visivelmente fatigados.

Embora nos atrapalhe em muitos aspectos, a quietude pode ser nossa grande aliada. Fale pouco e se comprometa menos. Discuta menos. Se enrole menos. Ouça mais. De fato, "quem tem boca vai à Roma", mas quem não tem pode ir muito além. Na dúvida, prefira o equilíbrio.

De um jeito ou de outro, deixo bem claro que não sou estranha, apenas tímida e um pouco preguiçosa. Prefiro ouvir piadas, falar sobre Disney e suas princesas, contar os babados do último sábado, discutir bons livros e comentar a beleza do Bruno Gagliasso em "Dupla Identidade". Meu papo não é melhor nem pior, tem apenas outra pauta. Se não te der sono, fale comigo!

Quanto àqueles que reclamam do silêncio alheio, sugiro pensarem se falam demais. Às vezes, o excesso de palavras pode inibir a resposta do interlocutor. Isso não é agradável, tampouco saudável. Isso é chato, irritante e egoísta. Já dizia o Kiko, "cale-se que você me deixa louco".

E quando percebo que um porta-voz quer ofuscar o brilho dos quietinhos, dá logo uma vontade (rara) de abrir a boca para reproduzir apenas uma frase: "¿Por qué no te callas?".