sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Cara Metade



Tem dias em que a mulher quer um único cara. A cara do cara encostada na sua cara. A balada cara em que o cara está, só para olhar na sua cara. A cara que carrega uma barba aparada, um lindo par de olhos castanhos e um sorriso arrebatador. A cara estampada no feed do Facebook, a mesma que ela reproduz em seus pensamentos quando ouve Sam Smith. Ou Bruno Mars. John Legend, talvez. Ou qualquer outro cara que a lembre daquele cara. O cara com quem ela iria para a ilha de Caras. Para as Ilhas Maldivas. Para a pracinha ao lado de casa. Para o sofá da sala.

O cara que é, simplesmente, "o" cara. Que desperta o lado frágil de uma mulher independente, fazendo ela quebrar a cara. Aquela cara maquiada quando ele a chama para sair. Aquela cara inchada quando ele vai embora. Aquela cara cansada quando ele a chama para sair, vai embora e depois volta.

"Cara, esse cara já deu", diz a mulher. Com tantas idas e vindas, não há barba aparada que segure esse amor, tampouco um lindo par de olhos castanhos. Mas um sorriso arrebatador pode virar o jogo. E vira. O cantinho dos lábios se curva para cima e já era: o cara volta com as mesmas promessas, as mesmas declarações e a mesma cara. A cara que ela vê todos os dias na fotinho do WhatsApp. A mesma cara que causa borboletas no estômago quando ele manda mensagem.

 Mas os erros de antes se repetem. O cara pisa na bola e a mulher joga na cara. A mulher condena o cara e o cara veste a carapuça. Eles ficam cara a cara, se olham nos olhos e deixam que aquela paixão de outrora se desfaça sutilmente. Em segundos, a sorte está lançada. Ou vai ou racha. Entre caras e bocas, uma lágrima cai do rosto dela. Dele. Dos dois. Enquanto isso, a retrospectiva passa na cabeça do casal despedaçado.

Foi amor à primeira vista: o cara a amou assim, de cara. Disse na cara tudo aquilo que sentia, embora não soubesse explicar muito bem. Afinal de contas, amor não se explica, simplesmente acontece. Amor nos deixa com cara de bobos. Amor nos deixa com a cara no chão e a cabeça nas nuvens. Amor nos faz passar carão. Amor nos faz pensar com que cara olhar para o outro depois de uma discussão. Ou de um primeiro beijo. Ou de uma declaração.

 Mas o amor é muito pouco perto de um coração partido. É reduzido a um jogo de cara ou coroa, em que cada um escolhe o seu lado. Há sempre um que sai ganhando, outro que sai perdendo. Amor é caro. Raro. Amor se desfaz quando o cara a deixa pela última vez, batendo a porta na cara. Na cara daquela que amou o cara. O cara da barba aparada, dos olhos castanhos e do sorriso arrebatador. O sorriso que sumiu da cara e só existe na memória. Na mesma memória que lembra do cara quando ela ouve Sam Smith, Bruno Mars ou John Legend. Na mesma memória que a faz dizer para si mesma:

- Ele era a minha cara.

Foto: o cara que dispensa legenda.