segunda-feira, 21 de julho de 2014

A Arte de Escrever


 Anos 90: o tempo em que bexigas gordas com cara de palhaço escondiam balas e pirulitos; o tempo em que Shopping Eldorado era sinônimo de Parque da Mônica, não Bodytech; o tempo em que dançarina do É o Tchan não era periguete; o tempo em que números de telefone tinham sete dígitos.

Ah, os anos 90! Entre tantas mudanças e avanços tecnológicos, sinto falta da caneta. Aquela que a gente usava para escrever cartas endereçadas aos amigos, com direito à foto revelada, marca de batom no papel estampado, CEP, selo e caixinha do correio. Aquela que a gente usava para trocar bilhetinho na sala de aula. Aquela que a gente usava para julgar a letra do outro e melhorar a nossa própria.

Canetas coloridas com cheirinho de fruta, onde estão vocês? Ainda posso sentir o aroma de tutti frutti da minha Signo rosa, a mesma que eu usava para escrever o título da redação.

Canetas coloridas que decoravam o estojo, onde estão vocês? Ainda me lembro de quando colocava uma a uma nos elásticos da Kipling, da mais clara para a mais escura.

Canetas tinteiro que borravam a folha, canetas BIC quatro cores, canetas com "pom pom" na ponta: sempre tão úteis para escrever no diário, anotar o número do colega ou desenhar na carteira da escola.

Saudades dos manuscritos e das obras de arte produzidas por cada uma delas, sem qualquer interferência da tecnologia. Afinal de contas, não há teclado que substitua a personalidade das letras humanas, cujas imperfeições revelam o escritor oculto e seu estado de espírito.

Talvez seja esse pequeno objeto o grande responsável pela minha paixão em escrever. Se tenho uma boa ideia, pego a caneta jogada em algum canto da bolsa e anoto no bloquinho. Se o professor passa matéria, dispenso o laptop e escrevo no caderno. Amo curvas, rabiscos e letras legíveis. Amo cadernos Tilibra, linhas e margens. Amo, principalmente, a boa e velha escrita: uma eterna descoberta que ilustra meus devaneios.