terça-feira, 16 de setembro de 2014

Vou Ser Gentil e Já Volto


Admiro os inteligentes, me divirto com os engraçados. Os românticos, então, me fascinam. Invejo os autoconfiantes, me interesso pelos discretos e aprecio os elegantes. Mas entre tantas características que definem o ser humano, aquela que mais valorizo é a gentileza.

Pessoas gentis sabem me cativar, mesmo desprovidas de intelecto ou bom humor. Se o cara abre a porta do carro, ponto para ele, pode até estar com uma camisa esquisita que eu nem vou me importar. Se o cara não abre a porta do carro, sem problemas, mas a camisa esquisita vai se destacar.

Pequenas atitudes são admiráveis e igualmente afrodisíacas. Acreditem: o cara lindo fica ainda mais lindo quando diz "eu te busco em casa" ou te empresta o casaco de moletom em dia de frio.

Mas gentileza não significa cavalheirismo, pois pode - e deve - ser praticada por ambos os sexos. Ainda me lembro do dia em que parei no ponto de ônibus e começou a chover. Antes que eu pudesse me molhar, a senhora que estava ao meu lado abriu seu guarda-chuva e disse:

- Aqui é como coração de mãe: sempre cabe mais um.

Então eu sorri e agradeci, ao mesmo tempo em que observei os motoristas dos carros discutirem entre si. E mesmo sem o conforto do seu próprio veículo, há pessoas altruístas que muito se familiarizam com a gentileza. Da mesma forma que a senhorinha me acolheu em seu guarda-chuva, uma garota com seus vinte e poucos anos completou o dinheiro da minha passagem de ônibus quando deixei o bilhete em casa. As coisas seriam mais fáceis se eu não fosse tão avoada, mas seriam ainda mais difíceis se eu não conhecesse essas pessoas.

Gentileza não é fazer declarações de amor, convidar para jantar ou distribuir elogios. Gentileza é algo muito mais sutil, que faz alguém se destacar dos demais por um simples gesto. Gentileza é o que fez comigo o senhorzinho da praia. Em um dia quente de verão, fui encher minha garrafinha d'água embaixo do chuveiro. Quando menos percebi, ele foi em minha direção, dobrou seu braço esquerdo e deixou que a água gelada escorresse do cotovelo para o bico da garrafa, enchendo toda a embalagem. Antes mesmo que eu pudesse agradecê-lo, ele virou as costas e foi embora.

Gentileza é uma amabilidade espontânea e voluntária que muitos carregam consigo sem ao menos perceber. É o carinho desprogramado de quem não força uma situação. É o comportamento natural de quem sabe ceder o lugar às pessoas mais velhas ou dar docinhos fora de época.

Gentileza é um lado mais humano que nos surpreende. É um gesto solidário que vai além do óbvio. É uma pitada de meiguice em quem parece normal.

Claro, nem todo mundo sabe ser gentil, mas todo mundo adora quem é. Aqueles que praticam gentileza são unanimemente (leia essa palavra sem tropeçar) queridos e dignos de nossa admiração. E para quem deseja ser tratado com gentileza pelas pessoas que o cercam, basta tratá-las da mesma forma. Como ouve-se falar por aí, "gentileza gera gentileza".

Às vezes perdemos a "compostura" e não somos tão gentis, mas isso é algo que podemos melhorar nas situações mais banais do dia a dia. Sorria para o motorista ao lado, abra a porta do elevador, mande um WhatsApp perguntando se o outro chegou bem em casa. Se não quiser, observe quem o faz. Você certamente mudará de ideia.

Gentileza não custa e não dói. Gentileza é o puro exercício de ser cortês sem esperar nada em troca. Gentileza vem de casa e se pratica na rua. Gentileza deixa o ruim bom e o bom melhor ainda. Gentileza sem amor é bom. Amor sem gentileza é ruim.

E depois de tanta reflexão, me despeço com uma simples mensagem:

"All we need is kindness".

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