terça-feira, 8 de abril de 2014

A Terra da Garoa



Minha São Paulo é contraditória. Uma cidade onde o caos das filas e multidões me faz odiá-la com certa frequência, enquanto a vida alheia me encanta a cada esquina. Quando o cansaço vem, uma conversa ao telefone me faz relaxar. Talvez seja a voz serena daquele homem ou, simplesmente, a frase que ele diz: “a gente vai se recuperando”. Então o estresse pós-lotação do metrô não mais me incomoda, afinal de contas, milhares de paulistanos – assim como eu – precisam se sacrificar para chegar a algum lugar (literalmente). E nesse processo de recuperação, as pessoas esperam ansiosas pela última parada.

Minha São Paulo é contraditória. O barulho do trem quase me ensurdece, mas o diálogo entre pai e filha é música para os meus ouvidos. A playlist do iPod me cansa, mas o som daquele japa que eu ouvi no Trianon é simplesmente genial. Os passarinhos se esconderam entre os edifícios da Paulista, mas a nossa gente talentosa sabe cantar por eles.

Minha São Paulo é contraditória. Eu odeio o busão às seis da manhã, mas amo o Starbucks às seis da tarde. Apaixonados, engravatados e mal-humorados nem parecem paulistanos quando se sentam naquele sofá e descansam com um copo na mão. É aí que eu penso: como ainda arranjam tempo para o café da tarde? Talvez tenham escapado do trabalho ou faculdade, encerrado o expediente, largado qualquer compromisso menos importante para tomar um Frappuccino com o(a) namorado(a), desistido da dieta – em plena terça-feira – para experimentar um Caramelo Macchiato ou, assim como eu, entrado para esperar a aula começar. 

Mas mesmo do lado de dentro, no sossego da cafeteria, os minutos passam depressa. Quando volto a observar cada um que se senta próximo a mim, já é hora de levantar. E a São Paulo agitada me espera lá fora. Tão igual, tão comum e tão contraditória.

Foto: Starbucks, café e calmaria.

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