quarta-feira, 5 de março de 2014

Carnaval e Seus Amores



Se eu não sou por mim, então quem é por mim?
Se eu sou só por mim, então quem sou eu?
E se não agora, então quando?

Essa passagem pertence ao koan judaico, questão com aspectos inacessíveis à razão. Em outras palavras, o termo se resume em "um dilema, um mistério que a mente racional não tem capacidade para resolver. Frustrando e contrariando nossas estratégias habituais de obter respostas, conhecer e compreender, ele nos leva a começar de novo. A chave para a resolução de um koan é uma mudança no ser do estudioso que permite um novo entendimento da própria questão". Tal explicação foi retirada do livro "Histórias que Curam - Conversas Sábias ao Pé do Fogão", da médica Rachel Naomi Remen.

Confesso que tentei encontrar algumas respostas para esse koan, mas falhei. Elas são, de fato, um verdadeiro mistério. Acredito que todas as questões mais complexas e abstratas, que fogem da nossa razão, só são desvendadas depois de muito tempo, quando somos mais velhos e experientes.

Para ser bem sincera, talvez as pessoas nunca cheguem a uma conclusão. "Quem sou eu?" é uma pergunta um tanto quanto ousada, cujas respostas podem variar de acordo com a época, o status, a vida profissional, pessoal e financeira e, principalmente, o estado de espírito em que elas se encontram. Só sei que, no final das contas, o que importa mesmo é dar o nosso melhor durante a vida toda e responder, sem culpa nenhuma, aquilo que papai um dia me disse: "Tenho 50 anos muito bem vividos".

E para viver bem, basta atender algumas de nossas vontades. Na última segunda-feira, eu estava em uma festa de carnaval e encontrei um casal de idosos bastante animado. No meio da pista de dança, aquele senhor grisalho dançava sem parar, puxando sua companheira para si. Felizmente, aqueles dois velhinhos com alma de jovens se aproximaram de nós, dando início a uma conversa, digamos... enriquecedora.

Ele, Victor Meirelles (fez questão de ser chamado pelo sobrenome), confirmou o que eu já sabia: com 77 anos, tem cabeça de 15. Porém, o que mais me surpreendeu foi o tempo em que ele e Marina estão juntos. Se você, assim como eu, pensou que a relação já dura há 50 anos, está enganado. O casal Energia se conhece há apenas dois anos e, aparentemente, vive o melhor momento de sua vida! Segundo Victor, Marina é um "monumento", uma "gostosura". E foi aí que eu me perguntei: existe idade certa para se apaixonar? Ou melhor, existe idade certa para viajar, trabalhar ou fazer tudo aquilo que você sempre quis?

Depois dessa experiência na festinha de carnaval, percebi que nunca é tarde para tentar e buscar o novo. Eu, por exemplo, passei o colegial inteiro dizendo que ia fazer Pedagogia. Uma semana antes do vestibular, decidi prestar Editoração (?), mudei de ideia e fiz Rádio e TV. Me formei, mudei de ideia mais uma vez e me inscrevi para o curso de Teatro. Adorei, mas continuava sem rumo, contatos e dinheiro. Mais perdida do que cego em tiroteio, decidi fazer pós em Jornalismo. Finalmente, uma boa notícia: estou me encontrando.

Somos capazes de mudar até pequenas coisas do dia a dia. Ontem, por exemplo, mamãe, Bia e eu decidimos almoçar em um restaurante mais caro, onde não frequentamos muito. A conta, claro, veio salgada. Mas não é que aquela tarde atípica com a minha família me deixou leve e feliz? Não sei se foi o frango ao molho barbecue, o risoto de champignon, a companhia ou tudo junto. Só sei que valeu cada centavo. Ao sairmos de lá, mamãe ainda disse: "Nós merecemos". Sim, merecemos.

Depois de tudo isso, o fim do carnaval não me deixou triste. Quem sabe essa quarta-feira de cinzas marque o início de uma nova e boa fase da vida e nos mostre o que/quem realmente merece atenção. Na busca constante pelo novo, é carnaval o ano todo.

Foto: Victor Meirelles e Marina, carnaval de 2014.

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