“O
Dia Mais Feliz da Minha Vida”. Esse era o tema da redação que a professora me
pediu pra fazer quando eu era pequena. Pra uma garota com pouca idade e sem
muita história pra contar, foi difícil escolher um momento que se destacasse
dos demais e tivesse toda essa importância.
Quando
criança, todos os dias são alegres e divertidos, e nosso único problema é dar
uma pausa na brincadeira pra fazer a lição de casa. Então como escolher um só dia feliz entre tantos outros?
Mas
aí a gente cresce e passa a se incomodar com diversas coisas. Estresse,
trânsito, correria, dieta, trabalho, metrô lotado, filas e mais filas, etc,
etc, etc. Tudo é tão cansativo que aqueles dias calmos e serenos da
infância parecem acontecer cada vez menos. Ah, mas quando acontecem... como é
bom revivê-los! Acho que, por serem tão raros hoje em dia, são ainda melhores
do que quando éramos mais jovens. Talvez seja por isso que, agora, eu consiga
me lembrar de um momento muito feliz na minha vida, que só aconteceu depois da adolescência.
Tarde
de abril em Paris. O dia está lindo! Nós, turistas deslumbrados, acabamos de
sair da Basílica de Sacré Coeur. Como se não bastasse tamanha beleza em seu
interior, nos deparamos com a vista de toda a capital francesa, cujas
construções parecem minúsculas! Ainda posso ver a Torre Eiffel lá longe, como
se fosse um chaveirinho.
Mas
a melhor atração de todas ainda está por vir. Antes de deixarmos o local, nos
sentamos nos degraus do escadão que nos leva à igreja. Não sei por que,
mas há muita gente por lá. Pessoas em todas as partes, até mesmo no gramado
lateral. Ah, mas eu acho que sei por quê. Tem um homem lá na frente tocando
(lindamente) um violão. Show acústico na Cidade Luz? Essa eu não perderia por
nada.
É
aí que ele começa a cantar “No Woman No Cry”, e aquela multidão forma um coro
que, instantaneamente, me traz uma paz que eu nunca havia sentido antes. Será a
música, o ambiente, a companhia? Eu não sei. Só sei que, naquele momento, eu
estava tão bem comigo mesma, que até me estranhei.
E
pra fechar com chave de ouro, o talentoso músico ainda nos chama pra ir lá na frente e
acompanhar o espetáculo ao seu lado. Descalços, dançamos como verdadeiros
menestréis, deixando os problemas há 9 mil quilômetros de distância. Como não
me sentir abençoada?
Não
sei se esse foi o dia mais feliz da minha vida, mas, com toda a certeza, foi um
dos mais especiais. E que momentos assim se repitam daqui pra frente, e me
lembrem de uma coisa que, às vezes, eu insisto em esquecer: viver é bom demais.
Foto: Paulo, Bia, Renata e Andreia em frente à Basílica de Sacré Coeur, em Mont Matre, Paris.